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Medo da aposentadoria: como planejar finanças e propósito para o futuro com segurança

Publicado em 08 de dezembro de 2025

A aposentadoria, que por muito tempo foi sinônimo de descanso merecido depois de décadas de trabalho, é vista no Brasil com uma mistura de desejo e apreensão. E não é para menos. O País recebeu nota C no Índice Global de Pensões 2025, alcançando 56,2 pontos e ocupando a 40ª posição entre 52 países pesquisados pela consultoria de gestão global Mercer.

O resultado não surpreende especialistas ouvidos pelo InfoMoney e que confirmam que o final de carreira pode sim ser muito problemático, especialmente com os problemas enfrentados pela Previdência e pela falta de planejamento das pessoas para o momento em que param de trabalhar.

Segundo a consultora em neurociência organizacional pela Nemeses, Joana Coelho, é normal que o tema venha sempre acompanhado de muitos medos, especialmente de faltar dinheiro, de perda do propósito e de não saber o que fazer com tanto tempo livre.

Ao mesmo tempo, a longevidade aumentou. É comum que alguém se aposente e ainda tenha 20 ou 30 anos pela frente. “A questão deixa de ser apenas ‘quando parar’ e passa a ser ‘como viver’ essa fase com segurança financeira, saúde física e emocional e dignidade”, disse a consultora.

 

O que mais assusta

Do ponto de vista financeiro, o diagnóstico é direto. Para o co-fundador da Silver Hub (aceleradora de negócios da economia platinada) e ex-CEO de seguradora Mapfre, Marcos Ferreira, a maior preocupação é a queda de renda na aposentadoria. “Quanto maior a distância entre o salário da vida ativa e o benefício, maior o medo de queda de padrão de vida”, disse. Soma-se a isso um segundo fator:  ao mesmo tempo em que despesas com transporte ou vestuário caem, os gastos sobem justamente onde mais dói, na saúde.

Isso é ainda mais pesado para as camadas de renda mais baixas, onde muitas famílias dependem majoritariamente do benefício do aposentado para fechar as contas do mês. A advogada previdenciária Sara Miranda lembra que a insegurança não é só matemática, pois envolve também a desconfiança sobre o futuro do INSS, risco de reformas e percepção de que direitos de hoje podem não existir amanhã.

Justamente por envolver tantas questões, desde as jurídicas até de sobrevivência, a transição para a aposentadoria deveria ter uma abordagem multidisciplinar, mas com forte componente jurídico, segundo a advogada Daniela Poli Vlavianos, do escritório Arman Advocacia.

 

Para ela, é indispensável revisar o regime previdenciário ao qual o trabalhador está vinculado, analisar os impactos tributários da nova fase, avaliar a necessidade de reorganização patrimonial e verificar se existe, por exemplo, a possibilidade de migração para previdência complementar ou ajustes em investimentos já existentes.

A especialista frisa ainda que, para profissionais liberais, como advogados e empreendedores, essa preparação deve incluir também a análise de contratos, planejamento sucessório e organização de responsabilidades remanescentes. “Quem antecipa essas discussões entra na aposentadoria com mais previsibilidade, autonomia e capacidade de exercer seus direitos, em vez de apenas reagir às mudanças.”

A especialista frisa ainda que, para profissionais liberais, como advogados e empreendedores, essa preparação deve incluir também a análise de contratos, planejamento sucessório e organização de responsabilidades remanescentes. “Quem antecipa essas discussões entra na aposentadoria com mais previsibilidade, autonomia e capacidade de exercer seus direitos, em vez de apenas reagir às mudanças.”

  1. Insegurança financeira – temor de que o benefício público não cubra o custo de vida.
  2. Risco de reformas futuras – medo de regras mudarem “no meio do jogo”.
  3. Perda de propósito e identidade profissional.
  4. Isolamento e fragilidade na saúde, sem rede de apoio.
  5. Desigualdade estrutural – quem vive de informalidade ou contribui pouco se sente mais vulnerável a uma velhice precária.

Para reduzir essa vulnerabilidade, ela defende ações coordenadas: ampliar cobertura previdenciária, incluir educação financeira e previdenciária em escolas e empresas, aprimorar governança dos investimentos dos fundos e criar mecanismos de aposentadoria parcial e reintegração social – como programas de mentoring, consultoria e trabalho voluntário com aposentados.

 

Além do crachá

Não é apenas entre os mais pobres que os medos aparecem. Eles se multiplicam também entre aqueles que construíram uma longa carreira. A consultora Joana Coelho observa que, desde executivos até funcionários de fábricas, muitos chegam perto da aposentadoria sem saber quem são fora do crachá.

“O trabalho ocupa o centro da identidade e organiza a rotina. Por isso, num workshop quando pedimos que alguém se apresente sem mencionar a profissão, o exercício vira um desafio. Por isso é importante que a pessoa veja que, sem uma identidade construída além da carreira, a aposentadoria deixa de ser conquista para virar ameaça”, conta.

Antes de entrar na transição, a pessoa precisa se perguntar:

1) Quem sou eu sem o trabalho?

2) O que eu farei com o tempo livre?

3) Como continuo sendo útil para a família e a sociedade?

 

O papel das empresas

Se a aposentadoria é uma transição longa e delicada, as empresas não podem mais tratá-la como um evento burocrático, como explica Tiago Calçada, diretor de investimentos da Mercer, empresa responsável pelo ranking dos melhores países parar se aposentar.

Para o executivo, as empresas precisam ajudar seus funcionários a enfrentar os principais desafios nessa fase de incerteza, especialmente sobre a adequação da renda para manter o padrão de vida com um planejamento antecipado.

 

Segundo Calçada, muitas organizações, inclusive, estão montando programas de preparação para aposentadoria que vão além da palestra pontual, incluindo educação financeira focada em previdência e planejamento de longo prazo; consultorias individuais com planejadores certificados; orientação sobre benefícios corporativos e como convertê-los em renda futura; programas de transição gradual, com redução de jornada ou trabalho parcial, e, em alguns casos, apoio a requalificação para empreendedorismo, ajudando quem quer abrir um negócio próprio após se aposentar.

 

Auxílio para novas gerações

Joana Coelho acrescenta que há um ponto-chave nesse caminho, que é a necessidade de as empresas olharem para o ambiente multigeracional em seus quadros. “Profissionais 50+ concentram conhecimento histórico e capacidade de decisão valiosa. Quando a empresa os empurra para fora, perde capital intelectual.”.

A consultora indica modelos em que esses colaboradores passam a atuar como consultores internos, mentores ou em projetos específicos, com carga horária adaptada. “Isso permitirá ajudá-lo não só na transição como na transferência de conhecimento para as novas gerações, assim como garantir o engajamento e senso de utilidade para quem está perto de se aposentar, garantindo uma transição menos brusca, tanto financeira quanto emocional.”

 

Saiba como se planejar financeiramente

No campo financeiro, os números ajudam a transformar medo em estratégia, segundo a planejadora financeira Rejane Tamoto. Para isso, ela fez simulações simples com uma meta: garantir R$ 4.000 por mês, dos 60 aos 100 anos (40 anos), com uma taxa real de 4% ao ano acima da inflação. Para isso, o valor necessário aos 60 anos seria de R$ 967 mil, sem considerar o Imposto de Renda sobre resgates futuros.

Para chegar lá, o esforço mensal varia de acordo com a idade de início:

  • quem começa cedo, aos 20 anos, precisa poupar cerca de R$ 833 por mês;
  • quem começa aos 30 anos, tem de guardar R$ 1.412 por mês;
  • quem começa mais tarde, aos 40 anos, o valor já sobe para R$ 2.659 por mês.

A mesma lógica vale se a meta for apenas complementar o INSS. Suponha alguém com potencial de receber R$ 2.000 de aposentadoria pública e queira mais R$ 2.000 de um plano privado. O valor a acumular, segundo Tamoto, cai para R$ 483,6 mil, e os aportes ficam na faixa de:

  • R$ 417 por mês se começar aos 20;
  • R$ 706 se começar aos 30;
  • R$ 1.329 se começar aos 40.

 

Tempo como aliado

A mensagem do planejamento financeiro é clara: tempo é o principal aliado. “A construção de uma reserva para ter liberdade financeira na aposentadoria é um projeto tão grande quanto a compra de um imóvel. Mas por ser objetivo de longo prazo, quanto mais cedo a pessoa inicia o investimento mensal com esse propósito, menor é o esforço necessário para atingir o mesmo objetivo”, afirma Tamoto.

Mas ela acrescenta que quem começa tarde não está condenado, só precisará poupar mais, rever estilo de vida, usar patrimônio já construído e, muitas vezes, prolongar o tempo de trabalho.

Para a fase de acumulação, Rejane destaca vantagens de produtos voltados ao longo prazo, como fundos de previdência (sem come-cotas, com possibilidade de dedução fiscal via PGBL para quem declara no modelo completo e com nomeação de beneficiários) e também o Tesouro Renda+, desenhado para pagar uma renda mensal por determinado período.

A melhor solução, porém, raramente é única: a aposentadoria tende a ser mais segura quando construída em camadas, com um mix de fontes de renda como:

  • INSS (como base);
  • previdência privada;
  • títulos públicos de longo prazo;
  • outros investimentos (fundos, renda fixa, ações, imóveis, FIIs), conforme o perfil.

“Regularidade dos aportes, reajuste anual pela inflação, automatização dos investimentos e acompanhamento profissional são peças-chave para que o plano não fique apenas no papel”, diz ela.

 

Medo não é fraqueza

Os especialistas convergem em um ponto: o medo da aposentadoria é legítimo, especialmente em um país desigual, com sistema previdenciário em constante revisão e uma população que envelhece mais rápido do que se pensava. Mas, em vez de paralisar, ele pode servir como gatilho para três movimentos concretos importantes:

  1. Planejamento financeiro de longo prazo, com educação financeira, uso consciente de produtos e diversificação de fontes de renda.
  2. Planejamento jurídico e previdenciário, para entender direitos, regras, tributos e proteção patrimonial.
  3. Planejamento emocional e de propósito, com autoconhecimento, construção de interesses fora do trabalho e redes de apoio social.

Dessa forma, a aposentadoria deixa de ser um “vazio” no fim da carreira para se tornar uma nova fase de vida – mais longa, mais complexa, mas também potencialmente mais livre. Quanto mais cedo essa conversa começa, dentro das casas, das empresas e das políticas públicas, maior a chance de que os medos de hoje se transformem em decisões melhores para o futuro, segundo os especialistas.

 

Fonte: Infomoney


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